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Relato do leitor

 
(04/Fev) Ser terapeuta
 
Ser terapeuta

Um dos princípios da filosofia clínica diz que cada pessoa tem um mundo subjetivo próprio e este difere de todos os outros de todas as pessoas existentes no mundo.

O desafio inicial do terapeuta é penetrar o máximo possível neste mundo (através da historicidade e outros procedimentos). É lá dentro que as coisas acontecem e é lá que elas devem ser trabalhadas.

Na clínica tem de tudo. Imagine como é poder, em um momento, olhar o mundo pelos olhos da vitima e em outras situações pelos olhos do agressor. Não que o mundo se resuma em vitimas e agressores, é apenas um exemplo.

Dentro do mundo subjetivo de cada um existem valores próprios, emoções, conhecimentos, um conceito de justiça, uma lógica própria, um jeito próprio de agir e em fim, um mundo próprio, porém, tudo que existe ali, pode existir mesmo que não encontre respaldo no mundo objetivo. E ali encontraremos de tudo, e tudo poderá fazer sentido.

Para melhor entender este mundo que se apresenta a sua frente, o filósofo deve conhecer bem seu próprio mundo e saber que todos os seus conceitos, crenças, verdades, etc., são seus e ele não poderá levá-los a seus partilhantes, mas ao contrário, ele deverá facilitar, deixar que seu partilhante lhe apresente tudo isso, conforme está no mundo do partilhante.

Quantos de nós estamos preparados para entrar no mundo do outro dessa forma? Sem dar opiniões de como as coisas poderiam ser, sem dar conselhos, sem julgar, sem apontar contradições, sem dizer que as coisas poderiam ser diferentes? Apenas aprender sobre como essa pessoa estruturou, com seus pensamentos, esse mundo subjetivo.

Muitos não entendem a necessidade de nos contermos e não levarmos nosso mundo ao outro e sim deixar que o outro mostre seu mundo a nós. Torna-se tortuoso se conter de mostrar como as cosas "são de fato". Porém, devemos lembrar que "ser de fato" é algo que pertence a nosso mundo, e neste momento, no papel existencial de terapeuta, não é nosso mundo que está buscando por ajuda é o mundo do outro, então deixemos que ele se apresente, sem ficarmos interrompendo, perguntando coisas que fazem sentido para nós e não para o outro.

Alguns dizem que querem fazer melhorias no mundo do próximo, mas como isso será possível se antes não pararmos para conhecê-lo?

Mas o trabalho do filósofo é só conhecer o outro? Não. Ele conhece no primeiro momento para poder interagir na seqüência, e essa interação também é cheia de procedimentos e recomendações.


     

 
 
Como referenciar: "Relato do leitor" em Só Filosofia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2025. Consultado em 16/06/2025 às 22:47. Disponível na Internet em http://www.filosofia.com.br/vi_relato.php?id=47