Você está em Diversos > Relatos
Relato do leitor
![]() |
(08/Set) | Categorias e Historicidade | ||
A historicidade é o material com o qual o filosofo fundamentará todo seu trabalho. Como cada partilhante tem uma história diferente e uma Estrutura de Pensamento também diferente, cada um terá uma clinica diferente, uma clinica desenvolvida conforme sua historicidade e para sua Estrutura de pensamento. Com as Categoriais o filósofo localiza existencialmente o partilhante, saberá o que o levou a procurar a clinica, encontrará questões existenciais, conhecerá as condições, o contexto da vida, os lugares que este freqüenta, o que marcou os períodos de sua vida e encontrara dados de sua relação com o mundo. As categorias são cinco: Assunto (Imediato e Último), Circunstancia, Lugar, Tempo e Relação. Assunto A Categoria Assunto é um guia para o filósofo. O partilhante já apresentará um assunto mesmo antes de o filósofo solicitar que este conte sua historicidade. Quando o filosofo é procurado, é normal que o partilhante já diga alguma coisa nos primeiros contatos, apresentando assim o assunto que será chamado de assunto imediato. O assunto imediato poderá ser uma queixa, um problema pelo qual a pessoa esteja passando, um objetivo que deseja alcançar, etc: "Olha Doutor, o meu problema é com meu filho, agente educa, sofre pra criar e depois é só decepção, eu num sei mais o que fazer com ele. Ele é assim fechado sabe, agente num conversa, eu num sei porque ele é assim, eu queria ser amigo dele, mas toda vez que agente conversa termina em briga". Tendo o assunto da clínica o filosofo deixará que o partilhante fale o que desejar a respeito, por outro lado, perguntará o que for necessário para esclarecer as dúvidas que surgirem. Após este primeiro contato o filosofo precisará da historicidade do partilhante, então perguntará sobre as primeiras lembranças (pode esclarecer que vai precisar de toda a historicidade) e daí em diante vai administrando cronologicamente a história. A partir deste momento entra em cena todas as recomendações sobre os agendamentos mínimos e os cuidados com os saltos lógicos e temporais. Após o início da historicidade, tendo a Categoria Assunto em mente, fica mais fácil ao filosofo perceber o que poderá ser utilizado e o que poderá ficar em segundo plano. No desenrolar da historicidade o filosofo encontrará muitas informações sobre o assunto, e as questões que se encontram na raiz do assunto, os dados que não apareceram no primeiro momento, isto é o assunto ultimo, pode ser a causa do que aparece em forma de queixa, pode ser o que está impedindo que o partilhante alcance seu objetivo, etc. É o ponto onde o filósofo irá atuar. Circunstancias A Circunstancias, de um modo geral, são os acontecimentos que afetam a vida da pessoa, são as condições da vida da pessoa. Quando temos um assunto, iremos verificar as Circunstancias relacionadas a este assunto; relacionadas aos tópicos que envolvem o assunto e também aos procedimentos que possam ser utilizados. Suponha que o partilhante tenha procurado o filosofo porque anda muito nervoso e isso está atrapalhando sua vida. No decorrer de sua história iremos detectar as circunstancias, o contexto deste nervosismo. Quando relacionamos a Circunstancias com a historicidade, buscamos as circunstancias apropriada para que o partilhante narre sua historicidade da melhor forma possível. Da mesma forma que podemos identificar, na historicidade do partilhante, as circunstancias que podem deixá-lo nervoso ou tranqüilo, podemos identificar também quais as circunstancias em que ele se expressa melhor, ou mais especificamente, quais as circunstancias mais apropriadas para que este partilhante conte sua historicidade. Durante a historicidade pode aparecer coisas como: "O melhor horário para falar comigo é pela manhã, antes de eu ir para o escritório, porque depois os problemas da empresa me tomam por completo". Diante de uma declaração desta o filosofo já saberá o melhor horário para marcar as consultas. Outro exemplo: "Em semana de provas eu paro tudo para estudar". Dependendo da situação o filosofo poderá evitar uma consulta numa semana dessas. Há situações específicas que podem estimular a pessoa a se lembrar de fatos de sua vida: "Aproveitei as férias para pensar na minha vida, no que estou fazendo dela". Encontraremos na fala do próprio partilhante as circunstancias que estimulam suas lembranças. Lugar A Categoria Lugar é composta pelos lugares que a pessoa freqüenta. O filosofo perceberá que em alguns lugares a pessoa se sente melhor que em outros. A questão sensorial é muito forte nesta Categoria, pois é justamente como a pessoa se sente sensorialmente, nos diversos lugares que freqüenta, que o filosofo vai observar: "Eu gosto de lugares assim, que tenha a presença da natureza, com plantas, arvores, matos, rios, da natureza pura mesmos, em lugares assim que eu sinto paz". Enquanto o partilhante conta sua história, o filósofo irá identificar como este se sente em diversos lugares. Pode ocorrer do ambiente de um consultório não ser o melhor lugar para se realizar uma clínica. A expressividade de uma pessoa pode funcionar melhor em ambientes específicos e o filosofo pode melhorar a qualidade da clínica adequando as consultas aos lugares mais apropriados à pessoa. As consultas não precisam ficar limitadas ao consultório, os encontros podem realizar-se no parque, na biblioteca, em muitos lugares. Às vezes o lugar é tão importante para o partilhante que a clínica só é possível se respeitarmos os lugares indicados por este. Porém, não podemos esquecer que a clínica se dá na interseção entre partilhante e filósofo. Portanto, um lugar alternativo deve ser apropriado para ambos. Do mesmo modo que o consultório pode não ser o lugar mais adequado para uma pessoa narrar sua historicidade, o lugar indicado por esta, pode não ser o melhor para o filosofo realizar o seu trabalho. Para que haja uma mudança de local, deverá haver um comum acordo. Tempo. Esta Categoria refere-se ao tempo subjetivo da pessoa. Pode haver circunstancias em que o tempo parece voar, passam-se várias horas e em nossa percepção parece que foram apenas alguns minutos, às vezes passam-se minutos e parece que foram horas: "Aquele sermão parecia que não ia acabar nunca". A mesma coisa pode ocorrer na relação tempo/lugar, poderá haver lugares que afetarão a percepção do tempo: "Quando estou na empresa, o dia parece uma eternidade, mas em casa eu nem vejo passar". Nossas relações com pessoas e com o mundo em geral, também podem influenciar no tempo: "Fizemos tantas coisas naquele dia que às vezes penso que aquele dia durou mais de vinte quatro horas". Às vezes o tempo não passa: "Aqueles minutos, na presença daquela pessoa, pareciam que nunca iriam acabar". São muitas as variações e tudo que se referir ao tempo subjetivo do partilhante entra nesta categoria. Outro fator importante nesta Categoria é a organização temporal que fazemos, naturalmente, de nossa historia. Para contar sua historia, o partilhante usa pontos de referencia para marcar os períodos de sua vida. Às vezes o partilhante divide por idade: "Quando eu tinha seis anos, quando eu tinha oito, aos dezesseis anos"; por série escolar: "Na segunda série, na quinta série"; Por lugares onde morou: "Nasci no Jardim Y, mudamos para o Bairro X e foi lá que tudo começou". As formas de marcar alguns pontos de nossa vida é singular, cada um de nós irá fazer do seu modo. Às vezes começamos marcando de um jeito, depois mudamos para outro. Seja como for, identificaremos a forma que o partilhante faz esta divisão dos períodos. A utilização desta Categoria no processo de retirada da historicidade se dá em relação às marcações de períodos, utilizaremos isto nos dados divisórios. Quando o partilhante relata sua vida até os 10 anos por exemplo, depois dá continuidade a partir dos 18 anos, ao final do relato o filósofo irá tentar completar a historicidade com os dados referentes a este período, estimulando o partilhante a falar do período. Para preencher estas lacunas é muito importante termos bem claro a forma que o partilhante usa para marcar os acontecimentos de sua história, pois assim buscaremos o período com o código de acesso criado pela própria pessoa. Se a lacuna está entre os 10 e 18 anos pediremos que a pessoa retome o período entre os 10 e os 18 anos. Às vezes o período não é marcado pela pessoa com a idade que ela tinha na época e sim pela casa em que morou, e se for este o caso, não adianta pedir que a pessoa relate sua história dos 10 aos 18 e sim que ela relate sua história no período em que morou em determinada casa. Às vezes a pessoa nem se dá conta da idade que tinha quando determinadas coisas aconteceram, mas pode lembrar com quem namorava, que curso fazia, que local trabalhava, etc. É justamente estes pontos de referência, que o partilhante lembra, que o filosofo vai utilizar para fazer os dados divisórios e preencher as lacunas que normalmente ficam em um primeiro momento da historicidade. Relação Relação refere-se à relação do partilhante com o mundo em geral. Encontraremos a relação do partilhante com as pessoas de todos os meios que freqüenta, seja com pessoas do trabalho, amigos, familiares e outros: "Não estou no trabalho para fazer amizade, estou lá para trabalhar, amizade é só do portão pra fora, não fico de conversa nem de brincadeira com ninguém". Nesta Categoria encontraremos também a relação do partilhante consigo mesmo: "Preciso ficar sozinho para avaliar o que ando fazendo. Quando estou sozinho, faço um balanço do que consegui e do que ainda não consegui, estabeleço novas metas também". A Categoria Relação não se limita à relação do partilhante com as pessoas do seu meio, aqui está também a relação da pessoa com o mundo, pode ser um jardim, um animal de estimação, um carro, os objetos de seu meio. Às vezes encontramos relações interessantes, pessoas que vivem muito bem isoladas do mundo; que tem um animal como membro da família; que amam seus móveis, e tudo isso mediante uma relação: "Aquele vermelhinho lá fora é o carro que te falei, eu namorei este carro durante uns dois meses na agência, eu falava: Se ninguém comprar até a minha férias, ele vai ser meu. E não deu outra, levei o carro que eu tinha, interei com o dinheiro da férias e peguei esta coisa linda. Fala verdade Dr., num é bonito?". Utilizar esta Categoria no processo de retirada da historicidade não foge à regra. Encontraremos na fala do partilhante as relações que estimulam a melhor expressão para a narração da historicidade ou as relações que estimularão a lembrança de dados: "Reencontrar meus primos foi muito bom, lembramos de várias situações e demos muitas gargalhadas, já aprontamos muito nessa vida". Esta é uma dica de uma fonte de recordações. Outro exemplo: "Existem coisas na minha vida que vão morrer comigo, outras só falo com pessoas de extrema confiança". Veja a relação influenciando a expressividade do partilhante. Aqui verificamos que alguns assuntos estão condicionados à relação de extrema confiança. Aliás, esta relação entre partilhante e filósofo que também pode ser chamada de interseção, será decisiva, será a base da clínica. Nos exemplos acima separamos as Categorias didaticamente para podermos explicar melhor cada uma delas. Na pratica elas poderão aparecer tanto separadas quanto juntas. Suponha que a queixa (Assunto) do partilhante seja o relacionamento (Relação) com coletas do trabalho (Local), e o partilhante reclama que o dia está maçante, que as horas não passam (Tempo) e que não está agüentando esta situação (Circunstancias). Temos aqui as cinco Categorias. |
||||
Como referenciar: "Relato do leitor" em Só Filosofia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2025. Consultado em 17/06/2025 às 00:22. Disponível na Internet em http://www.filosofia.com.br/vi_relato.php?id=35