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Relato do leitor

 
(12/Jun) Filosofia Clínica no dia-a-dia
 
Filosofia Clínica no dia-a-dia.

Há algum tempo venho praticando a filosofia clínica no meu dia-a-dia, sem consultório, sem partilhantes formais.

Notar a presença de pré-juizos influenciando na rotina das pessoas é natural. Lidar com essas pessoas sabendo que estamos lidando com um pré-juizo é diferente, principalmente quando conhecemos a pessoa e sabemos quais os outros tópicos podem ser chamados.

Identificar uma esteticidade bruta é coisa simples que aprendemos em uma única aula, mas lidar com ela na prática, quando ocorre conosco na vida real é outra coisa. No dia-a-dia, muitas vezes não somos o filósofo clínico para as pessoas, a grande maioria dos parentes e amigos nem sabem que estudamos, muito menos filosofia clínica. Relacionamos com as pessoas de igual para igual. Não existe lugar melhor para testar o que aprendemos.

Nessas condições não é possível fazer um atendimento formal com os cuidados dos primeiros contatos, com a solicitação da historicidade, o acompanhamento dos saltos lógicos e temporais. Podemos sim fazer agendamentos mínimos e estar atentos para Categorias, Tópicos e Submodos que aparecem voluntariamente.

Neste cenário, diante de pessoas com as quais convivemos grande parte de nossa vida, é comum nossas interferências dar encaminhamentos para as questões e, às vezes, elas se quer percebem o que estamos fazendo, ou que sabemos o que estamos fazendo. Ouvir sabendo que se trata de uma esteticidade é muito diferente de simplesmente ouvir, é ouvir sem interferir, cuidando para não agendar e, quando necessário, até direcionar um dado de semiose, tendo fundamento para isso, é claro.

Para algumas pessoas o exercício de um dado de semiose, em um momento crítico da vida, pode mudar completamente o cenário, ou a percepção que a pessoa tem dele. Dando assim clareza às questões e equilíbrio em uma decisão. Muitas vezes a pessoa não sabe disso, e não estamos em uma sala de aula ou em um consultório para ensinar isso, apenas damos o encaminhamento e observamos os resultados.

Providenciar um prato de comida para um doente terminal está ao alcance de todos, embora muitas vezes a intoxicação por remédios a dor e a falta de apetite não permitam que esta pessoa se alimente. Mas identificar na historicidade da pessoa os aspectos sensoriais, o prazer por um prato único que seria capaz de superar todas essas coisas pode ser possível. E uma pessoa já enfraquecida que recusa tudo que é oferecido consegue enfim se alimentar. Isso não é mágica, é filosofia clínica.
     

 
 
Como referenciar: "Relato do leitor" em Só Filosofia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2025. Consultado em 17/06/2025 às 04:38. Disponível na Internet em http://www.filosofia.com.br/vi_relato.php?id=26