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Relato do leitor
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(14/Mar) | Termos Agendados no Intelecto | ||
Termos Agendados no Intelecto
Esta semana encontrei um amigo que há tempos andava sumido. Conversamos por horas, quantas estórias relembramos, quanto mais conversávamos mais estórias apareciam, nem lembrava quantas vivências já tínhamos compartilhado. Depois da conversa com este amigo fiquei lembrando de outras coisas como o time de futebol da infância, as namoradinhas, algumas aventuras e descobertas. Essas memórias estavam guardadas em algum lugar, quase esquecidas, porém a conversa com este amigo foi como uma chave de acesso que as trouxeram à tona. Talvez fosse menos estranho se a conversa não tivesse ocorrido via Internet( não comentei este detalhe antes de propósito). Acho que meu filho nunca sentirá esta estranheza, pois, me parece que, para ele, teclar é algo natural. Dados de Semiose à parte, outra coisa que me chamou a atenção foram as riquezas dos detalhes. Como é possível agendar tanta coisa por tanto tempo? Será que posso agendar tudo que eu quiser? Por que não me lembrei das respostas na ultima prova da faculdade? Nunca ouvi falar de limite em termos de memória, até a velhice avançada uma pessoa saudável sempre pode se lembrar coisas de qualquer época de sua vida. Percebo que minha Memória é seletiva, quando assisto a um filme já visto, percebo que não me lembro de alguns detalhes, ma s como já assisti sei que já foi visto. O que nos interessa aqui é saber que nem sempre registramos tudo que acontece, nossa memória seleciona, de alguma forma, aquilo que percebemos. A seleção é algo muito particular. Notamos que o mesmo fenômeno relatado por pessoas diferentes recebem versões distintas. Isso ocorre em primeiro lugar porque somos únicos e temos uma maneira única de ver o mundo, não vamos notar reações químicas em um evento se não temos base para isso. Diante de um filme algumas pessoas se prendem ao romance, outras prestam mais atenção às ficções, outras observam o figurino e por ai vai, depende de cada um. Mas este é um exemplo rasteiro, há um passo mais profundo nesta questão. Algumas pessoas registram um acontecimento pela sua importância. Neste caso, sendo apresentada como algo importante, a informação será facilmente agendada. Outras pessoas terão mais facilidade para agendar termos relacionados aos sentidos, assim os cheiros, os sabores, as temperaturas, as sensações do corpo de uma forma geral sempre serão identificadas e armazenadas. Conheci uma pessoa que agendava com facilidade as coisas ruins que vivenciava, parecia uma coleção de frustrações e decepções. Quando conversávamos, ela sempre tinha uma estória verídica e trágica para contar, e somadas pareciam ainda maiores. Preciso descobrir como funciona a minha mente com relação à memória para melhor utiliza-la, para armazenar o que quiser. Uma coisa que já percebi é que, em mim, o agendamento de conceitos abstratos não segue o mesmo padrão das vivências sensoriais. Lembrar das estórias vividas é muito natural, um pé de cravo me leva ao jardim de minha bisavó, um odor específico aos currais de vacas leiteiras, um dia chuvoso me trás outras lembranças, e assim segue, um dado sensorial, uma memória. Os termos agendados no intelecto podem estar relacionados a uma infinidade de questões, como exemplo: Questões sociais, pessoais, abstratas, emocionais, pré-juízos, raciocínio, buscas, epistemologias, valores, roteiros, etc. Como agendar uma aula de contabilidade (pura teoria) em uma mente que relaciona memória com vivencias sensoriais? Talvez haja uma fórmula, mas eu não encontrei ainda. Vou buscar outro tipo de memória, uma que não esteja ligada ao sensorial para eu explorar. De posse de uma estrutura de pensamento, um filósofo encontrará com mais facilidade os possíveis caminhos. Estou me lembrando da dificuldade que tive com a tabuada na segunda séria primária. Lembro-me que uma professora queria me reprovar, pois toda a sala já tinha decorado a tabuada, mas eu não. Como alguém poderia ter inventado tal tabela? Eu lia e relia e quando tentava me lembrar da resposta, parecia que eu estava diante de uma loteria. Coisas sem lógica já me apavoravam nessa época. Qual poderia ser a lógica de 3 x 4 = 12? Eu já estava desistindo de decorar aqueles números quando a professora enfim explicou: "Vocês devem somar o segundo numero a ele mesmo pelo tanto de vezes que indicar o primeiro". Assim a lógica de 3 x 4 = 12 era: 4 + 4 = 8 + 4 = 12. Foi uma sensação incrível, foi um alivio descobrir que o resultado tem relação lógica com os dois primeiros. Passei até a entender porque o x era chamado de vezes. A lógica clareou tudo, três vezes o quatro é igual a doze. Aprendi toda a tabuadas de uma só vez. Não sabia decorado, mas sabia. Alguns segundos para contar e já tinha o resultado. Note que aqui a memória funciona em um link com a razão. Dessa forma não adianta eu tentar agendar uma aula teórica como buscava acima, o que eu tenho de fazer é encontrar a lógica, é entender porque as coisas são do jeito que o professor diz. E você, já sabe como funciona sua memória? José Responsável - Clailton Oliveira |
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Como referenciar: "Relato do leitor" em Só Filosofia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2025. Consultado em 17/06/2025 às 04:34. Disponível na Internet em http://www.filosofia.com.br/vi_relato.php?id=22